Thursday, January 20, 2011

A Igreja Católica e as origens do capitalismo


No séc. XV a Igreja Católica era a maior força da Europa, combinando dominação ideológica com poderio financeiro. Totalmente integrada ao modo de produção feudal, a Igreja era detentora de terras por toda a Europa, e assim possuia uma consolidada posição frente aos príncipes e senhores feudais do continente. A princípio pode parecer difícil conceber a real dimensão do poder da Igreja, visto que não há paralelo em toda a história. A Igreja não era um Estado, tampouco um simples culto. Era tudo isso, e era além disso.

O status quo da Igreja Católica começa a ser ameaçado quando as dinâmicas sociais de produtivas esboçam uma transformação. A ascenção de uma classe mercantilista põe em xeque o modelo feudal, iniciando um processo que, dentre diversos fatores, mais tarde culminaria na transição do núcleo financeiro da terra para o capital. Logicamente, não podemos reduzir as transformações na sociedade européia apenas à ascenção burguesa, por mais que seja um fator determinante. Há elementos fundamentais no campo ideológico a serem observados, principalmente considerando-se o imenso poder cultural que a Igreja possuía.

Grosso modo, a cada vez mais poderosa e influente burguesia esbarrava nos dogmas e resoluções do Vaticano, as quais funcionavam como uma espécie de "proteção" ao sistema camponês do qual a Igreja fazia parte. As possibilidades que a burguesia e sua economia mercantil apresentavam confrontavam diretamente com as necessidades dos senhores de terra do feudalismo: uma economia baseada no lucro e na competição, na qual a posse de terras e as relações servis de pouco teriam utilidade, visto que numa relação de suseranato tipicamente feudal, o proprietário da terra cedia partes de seu domínio para seus vassalos, que, em troca, cediam parte de sua produção. Ora, ao fazermos a transição para uma econo mia de capital, tal relação de suserania e vassalagem deixa de existir, pois abre-se a possibilidade de não apenas obter cotas de produção, mas sim de transformar esta produção em lucro, de valorizar não mais a terra, mas sim a produção obtida através dela.

Para Grandes proprietários de terra como a Igreja, era uma transição prejudicial. Como grandes suseranos, os domínios de suas terras estava sob uma longa cadeia de vassalos que se tornavam suseranos menores com seus próprios vassalos, e assim por diante. Logo, a produção que alimentava as riquezas dos grandes senhores feudais apenas continuaria a chegar em suas mãos através destas relações de servidão feudais, posto que era praticamente impossível gerar capital a partir de uma produção adquirida de maneira tão remota e indireta. Além disso, para quem desses suseranos menores podia investir em um exército, esta ruptura com o antigo sistema feudal foi a oportunidade para declarar independência de seus territórios e, dessa forma, livrar-se das obrigações de vassalagem para com os suseranos maiores - a gênese do surgimento dos estados nacionais.

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